comunista desejosa de glamour hollywoodiano. anarquista com apego material a coisas emocionais. plagiadora que exige direitos autorais



quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Banana rosa de mim mesma (não, isso não é uma mea culpa, é só uma reflexão do umbigo que abarca a vida toda)

Tenho pensado muito nisso. Minha informalidade é o meu maior pecado. Mesmo sendo um pecado que às vezes levanto como bandeira de virtude.
Minha informalidade fere o brio de muita gente. Tenho pensado muito nisso. Muita gente faz cara feia pra minha INFORMALIDADE. Mas eu te garanto que eu me estrepo muito mais que qualquer um por causa disso. Sou informal, marginal, amadora e quase velha. E dura.
Daí eu decidi, mais uma vez em levantar bandeira: em teatralizar/ESPETACULARIZAR o meu maior pecado. Por que entre a formalidade e o ritual, continuo sendo hippie. Vai saber onde eu vou parar.

Deu pra entender? Eu ainda não sei se eu entendi. Mas vamo lá.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

comitê de escracho permanente

Noite Belo Horizontina ou comitê de escracho permanente:
(na minha porta, no meu peito no meu cigarro)
Deriva
Deriva
Deriva
(Dia. Dia comum. Rua movimentada). Uma mulher e um megafone no centro da Praça Sete.  Set de filmagem ou escracho cinematográfico.
-Obelisco
Obelisco
Pelourinho
Pirulito
Paralelepípedo. 
Paralelepípedo .
Proparoxítona.
Flácido, tráfego, bêbado, trôpego.
Modigliani!
Chico Buarque de Hollanda merece o nosso respeito.  Pablo Picasso sabia muito bem roubar idéias e fazer mulher chorar!
Chuta a família mineira, e depois traz pra mim um café, Nice.  Madame Bovary “Ce moá” “cé moá ““ce moá”.
(discursa sozinha, dá ordens, dirige uma superprodução).
- Gente! Gente! Por favor! O trem já vai sair!
Villa Lobos nos aguarda na Casa do Conde de Santa Maria para maiores informações.
Não sei se os caipiras avançaram. Pergunte a produção. Pergunte a Santa Maria!
Pergunte a Nossa Senhora da Bad Trip!
A última palavra de Picasso: MODIGLIANI
A última palavra de Prometeu: Resisto!
A resistência e a desobediência civil já podem se posicionar.
Vamos fazer um teste.
Todos os triângulos rosa!
Atenção todos os triângulos rosa! Por favor, juntemonos  no trenzinho. Tem espaço na vã.
Carlos? Carlos? Por favor, Carlos? As britas estão no meio do caminho. Preciso que faça para mim um castelinho de areia, sim? Coloque o castelo dentro da Kombi, quando terminar.
Senhor Adolph Hitler! Adolph Hitler! Antes de o senhor saltar do viaduto da Floresta é preciso é preciso é...
Não se atreva a subir no viaduto Santa Teresa!
Índios de Gothan City não comece ainda. E não deem ouvidos ao pastor.
O solilóquio do índio Acaiaca começa em cinco minutos.
Quando foi a ultima sessão de cinema?
E o que foi feito de Vera?
Senta no cimento que a barricada tá embalada a vácuo.
Eu quero Chacrinhas de açúcar e Julieta no balcão! Onde está Julieta?
Julieta! Eu sei que você está aí. A luz está acesa!
Agora todas as janelas do Iphan, vão se abrindo lentamente...
Eu quero todas as janelas!
De novo: Todas as janelas! O que acontece com as janelas do meu quarto?
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?)
Olha a chuva!
É menrtira!
Anarriê!
Tur!
Ó Esteves!
Não precisa a metafísica! Só um pouco de areia brita e água.  Se ainda tem ferro nas almas, te garanto que o barroco ainda escorre do concreto.
Não é o trem. Foi o metrô. O metrô não, o trem. Não o trem, mas o trem. O trem.
Trem.
Gostaríamos de agradecer a Cia. Valle del Rio Dulce, por nos proporcionar este belo momento. Sem a Valle jamais realizaríamos este trem.
Não se reaproximem do Minas Tênis Clube a essa altura do campeonato.  E não alimentem os quatis. A minha vida é essa! Criar desumanidades na grande roça, elefantes e mineiros não esquecem jamais, dizem que gostam de amendoim, e não é ilusão de ótica, é mágoa subindo ladeira em ponto morto.
Descer floresta enquanto o lobo não vem.
Ok, Carlos... Quando foi mesmo que você subiu a Bahia nu?
Alguém te deu crédito? Senhor de costas para o mar?
É preciso cantar. Antes de expulsar mais uma geração pra ver a lagoa.
Cantar o quê? Porra! E não me pegue no braço! Sou jacu.
Pianinho. Pianinho. Pianinho.
Eu vou aprender a cantar só.
Coro de morcegos e todo o trânsito do viaduto aos seus postos.
Adolph já pulou? Por quê? Quem mandou? 
Arranjem outro. Pode ser o prefeito. Quem está na janela redonda?
Julieta por que apagou a luz?
O curral, a serra e o rey.
O curral, a serra e o rey.
O curral, a serra e o rey.
Ah minha vida toda!
O curral, a serra e o rey.
Não se aproximem do IPHAN!!
Um espectro ronda.

Uma mágoa barroca ronda nossos ombros.

Só a dor de cotovelo nos UNE.

Não temos passe livre.

Ainda.

Carlos? Carlos? E agora?
(continua)



terça-feira, 17 de setembro de 2013

perdão.

sábado, 14 de setembro de 2013

Belo Horizonte
Tem horas agora que eu quero te largar, te deixar pra trás, te esquecer como nunca quis antes. Tem hora que eu quero cuspir nesse asfalto e rasgar uma a uma minhas cartas de amor que te fiz e queimar num coreto qualquer. Numa pracinha qualquer, numa esquininha qualquer, num butiquim qualquer.
Tem horas que eu olho pra você e você me joga na cara todo o meu sonho de coletivo, de grupo, de história, de teatro, de amor, de amizade, de historinha nova, e me joga fora dentro de um bueiro sujo entupindo uma Cristiano Machado inundada de carros, descaso, propagandas do Aécio, água e BRT.
Tem horas que eu não sei o que fazer com esse trem. Esse trem que de repente esvaziou. Meu coração precisa te esquecer pra voltar a te amar.
Não sei se a bupropiona vai me fazer esquecer, vai me fazer fumar menos, vai me fazer doer menos a vontade de depois que dói o externo e deixa tudo nublado.
Cada dia guardo um olhar diferente pra você. E nesse momento você só me dói. Só me dói.
Não ouso dizer que te odeio, mas eu te odeio.
Te odeio por toda madrugada que te caminhei, por toda boca de lobo, por toda vontade que no fim dá sempre errado, todo mundo! Inclusive eu mirando o próprio cu. Te odeio por todos os teatros fechados, por toda rua com nome de índio, por toda esquina saudosista. Todas as igrejas clubes, savassis, serras, JKs e Niemeyers, te odeio por toda mágoa que eu herdei, por toda essa desconfiança de que alguém vai descobrir onde escondi a porra do queijo, e que o santo é de pau oco, que o progresso tá dentro desse contorno e que a liberdade tá no ponto mais alto. Desse triste viaduto da Abraão Caram. Desse mundinho. Mundinho, que me aprisionei. Te odeio cidade. Te odeio por fazer isso comigo. Te odeio por me trancafiar aqui dentro, sem horizonte horizonte horizonte horizonte.
Cidade eu não rolei no seu asfalto o suficiente, mas de que adiantaria? Adiantaria? Você me amaria? Você não me ama. Você não me ama! Você não me ama. Eu insulto o burguês. Ódio ao burguês! Ódio cidade.
Ninguém vai entender meu escarnio momentâneo pelo curral.  Foda-se. Eu grito do alto dos piolhos entupida de cachaça e os militares não passarão. Eles não sabem o que fazem mas também não sou cristo então eles que se fodam junto com o viaduto, Fernando Sabino e Drummond. O meu nome não é Raimundo, tampouco me importa o mundo nesse sábado de manhã. Hoje não tem carnaval, nem procissão. Mas todas as janelas estão fechadas de luto.
Eu quero muito que isso passe, por que eu preciso te amar. Mas hoje eu te odeio.
Do fundo do meu coração.

Eu tô chorando e já quero te pedir perdão. Mas hoje não. Hoje nada de perdão. Nada. Não.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Teu bom só para o oco, minha falta!
Careta é sua mentira
Careta é o seu dragão que é falso
Careta é seu nariz torto pra mim
Careta é sua cara de mala leche!
Careta é seu desdém
Careta é seu carão empostado
Careta é seu punque empolado
Careta é você num lapso de momento, num ato corriqueiro
Numa dor de cotovelo, numa mágoa guardada, num fracasso qualquer
Representar séculos de patriarcado
Séculos de macho branco sempre no comando
Séculos de burguês burguês
Séculos de mulheres frigidas
Mulheres frágeis
Mulheres que competem entre si
Careta é você querer me dar nome
Careta é você reverenciar qualquer um por medo
Careta é você taxar qualquer um por medo
Careta é você achar que eu já tenho nome
Eu tenho a minha dor,
Eu tenho a minha alegria
Eu tenho a minha medida
Teu bom só para o oco, minha falta
Careta é sua inveja
Careta é vidro espelhado
Vidro temperado
Blindex
Careta é ator de novela de dente branco e sem sombra
Careta é ator de novela não ter poro aparente
Careta é o William Bonner
Careta é achar que só o William Bonner é careta.
Careta é minha TPM triste.
Careta é meu ciúme
Careta é meu egoísmo
Careta é meu rompante
Não meu rompante não é careta por que eu assumo minhas fraquezas
Eu sou fraca
Careta é minha inveja
Careta é meu recalque
Careta é recalque.
Careta é achar que tudo é recalque
Não que eu não goste de Freud
Não que eu não saiba de Freud
Careta é achar que é tudo simples
Careta é achar que é tudo difícil
Careta é não tentar
Careta é não compreender
Careta é repetir modelo antigo
Repetir modelo antigo
(Repetir modelo antigo!)
Mesmo o tempo te pedindo outra coisa
Careta é tanto ajuste
Careta é insistir no desajuste
Careta é sofrer calada
Careta!
Careta é não doer nunca
Careta é doer demais
Careta é achar que eu sou pra casar
Careta a sua mania de não querer quebrar a cara
Careta!
Careta é carro grande que até a maçaneta é maior que a dos outros carros
E reflete pra mim a falta que te faz um pênis grande
Não que eu goste Freud
Não que eu saiba de Freud
Mas careta é você reivindicar um tempo morto
Careta.
Careta.
Careta.
E agora a mesma chuva.
A mesma chuva.
Em mim e em você.
(e chove. eu fumo mesmo assim)

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

segunda-feira, 29 de julho de 2013

yo la peor de todas

Yo la peor de todas
Acho que fraquejei
Não sou poulanista mas sou pomba
Eu debocho de ti e de mim e choro depois
Depois de tanto verbo a pessoa morre
Eu traí o movimento
Tantas vezes
Eu sou só atrevida,
Às vezes.
Eu não serei só que vocês querem que eu seja
Ou o só o que eu quero
Sou só uma atrevida,
E consequentemente dou muito bom dia a cavalo.


segunda-feira, 15 de julho de 2013

comentário de Maria Cândida (minha mãe) sobre post do dia 10

Impressão errada. A paixão nunca foi meu forte. Ser branda sempre foi em muitos momentos meu pecado, o caminho escolhido por medo ou certeza.
A revolução nunca foi minha opção, o dia a dia sim.
A luta diária nas pequenas coisas por um mundo melhor e uma luta árdua por convicções, coerência pelo mais certo, que tantas vezes perdi, mas tenho tentado não desistir.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

quarta-feira, 10 de julho de 2013

a cada segundo um combate entre o cigarro e a tela do computador a pia e o feed transbordando de informação a recessão da minha conta bancária o mercúrio retrogrado a incertidão dessa pessoa física com 40 reais no banco que será amanhã das minhas responsabilidades de mulher atriz sem salário fixo desempregada dos ofícios tradicionais mas com tv a cabo e internet banda larga o que faz de mim um pouco coxinha mas não sou dada a pesar de tudo a comiseração sucrilhos não sou dada a pesar de tudo a reivindicações danoninho mas o que sou eu aqui então desempregada chorando as pitangas (?) apesar de privilegiada e apesar disso eu fiquei ontem sem me mover fumado sem parar diante das imagens de uma passeata que eu não fui e chorei egoisticamente de ter me privado de estar onde queria e ao mesmo pensando que na primeira passeata eu tinha mais clareza do que eu achava e pensava e a semana passou como um furacão que senti e pensei tanta coisa ao mesmo tempo sem ter deixado nunca a perspectiva esquerdística que herdei de meus pais hoje tão brandos porem justos porem eu radicalizo as vezes por desejo por anseio por não saber de porra nenhuma mas me vi cantando a internacional me vi enxotando enchapelados e mesmo não me arrependendo das minhas ações nos últimos dias só quero dizer que jamais ficarei em casa e sei que tá longe de acabar e longe ter qualquer entendimento eu quero fazer revolução e amor até mais tarde e fumar depois só depois


23/06

meu cigarro

Meu cigarro nasceu da solidão. Meu cigarro nasceu como companhia. Meu cigarro nasceu da avó do mundo de cócoras a fumar durante a criação da Terra. Meu cigarro é herança de índio, que passeou por Hollywood, Hunphrey Bogart Guarany esfumaçou o glamour de meus avós. Meu cigarro nasceu do maço de cigarros do meu vô em cima da TV. Cinco cruzeiros e o troco de bala. Meu cigarro nasceu deitada na rede desperdiçando insônia e sangue olhando pro céu de fumaça. Meu cigarro nasceu da fumaça que encobre meu pensamento de companhia cheia de herança. Meu cigarro é herança de índio que chora na rede dentro da noite ocidental. 
Minha noite ocidental é cheia de cigarro. Meu cigarro é fruto de pecado de pulmão. Meu cigarro é oficina em plena atividade de ociosidade no ocidente de não sei quando ou onde, meus amores... Meu cigarro é fruto de se eu continuar assim minha ansiedade me mata aos quarenta. Meu cigarro tem cara de comercial dos oitenta. Meus noventa começam com cigarro. E meu segundo cigarro tem gosto de menta.

Meu cigarro agora e só agora tem cheiro de Morrissey, mesmo sempre sido a cara do Nelson, e com a garganta de Rorô sempre sendo Nair Belo. Meu cigarro dói de fôlego, por 17 anos, alguns namoros, um casamento e uma dúzia de peças de teatro. Meu cigarro grita nas minhas roupas, no meu cabelo e no nosso beijo. Nosso casamento tem cigarro e se um dia não tiver, por favor, continue me amando. Por favor, continue me beijando. Meu cigarro também tem algumas janelas e meio fio como herança de melancolia sem libido de uma estrada de minas pedregosa do caralho. Meu cigarro também é volver a los diecisiete violeta violenta com la frente marchita de memória. Meu cigarro também não dói de metafísica. Meu cigarro é o que de mais concreto da minha dor se acomodou como catarro no meu peito.


Marina Viana
Fumante há 17 anos.
Fuma dois maços por dia.

Traga até charuto.

terça-feira, 9 de julho de 2013

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Lester Bangs de Garagem. Aqui de Casa.


NA GELÉIA GERAL BRASILEIRA QUE O MIMEÓGRAFO brinca de ANUNCIAR, O QUE ESTÁ NA PRAÇA O QUE ESTÁ NA PRENSA, O QUE ESTÁ NA SALA DE CASA, NA GARAGEM, PRONTO PRA SAIR E DEIXAR DE SER PROMESSA.

Eu sempre gostei da “historinha”. Por que a gente monta uma banda com os colegas na garagem de casa? Historinha. Grupo de teatro? Historinha. Namoro? Historinha. República, ménage à trois, foto no muro, casamento na Igreja de uma filha de ex-hippies, poema compartilhado, cover de Ro Ro...  (aliás, que verve falta na voz daqueles rapazes? Como eu queria um Marcelo todo Veronez ali.) Historinha.

 Você topa? E se der errado? A gente mantém o contato visual?  Quem vai primeiro? A gente vai junto. Um de cada vez. Todo mundo junto. É pra durar? E se sambássemos na cara de todo mundo? E a nossa cara? Quer namorar conosco? Nossa cara aguenta? Tá brincando? Isso não existe. A cara sambada? Nosso primeiro single? Da pra curar depois? Me cura? Te curo? Me cuida. Te cuido. Como é que faz?

Sempre gostei de historinha. Uma vez sentada com Marina- Byron-Lipe- Marcelo no Bolão, Marina teve uma discussão com Byron sobre João Gilberto e MC Catra. E eu achei lindo e divertido. Passou um carro tocando funk, e Byron soltou um “queria ter um carro com som pra colocar João Gilberto bem alto” e Marina disse: Byron! Vai tomar no cu! Eu sou mc catra e ponto! A discussão rendeu mais que isso, mas por trás disso tudo tá a historinha, tá o discurso. Marina não escuta MC Catra, mas por que todo mundo tem que escutar João Gilberto? E é só isso que tá por trás dessa discussão? A gente, tão debochado, a gente ainda preso e apaixonado pelo passado e pelos antepassados, a gente que de tão mal passado ainda sangra, até que ponto isso é só sobre musica?  Ainda desconfio. Ainda quero mais.

Nesse mesmo dia, após a discussão eu soltei um “eu gosto mesmo é da historinha”, me referindo a cantores, cantoras, bandas, seus passados, suas mortes, seus amores, suas tentativas, body drama, Elis chorando enquanto canta, ou Elvis errando a letra, muito suado e muito gordo, Caetano improvisando um discurso sobre a juventude que diz que quer tomar o poder. (Alex, Beto e Zé ensaiando musicas na sala de casa sábado passado. Eis que nasce pra mim Glorios Tarcísios.)

Mas quando eu disse isso, Marcelo me arregalou os olhos e disse: “que isso, o que eu gosto mesmo é da musica!”, deve ter ficado muito decepcionado comigo naquele momento. Mas acho que eu não consegui me explicar, hoje eu acho que ele entende o que eu queria dizer. Mas discussões etílicas não são articuladas, são exclamações, manifestos que se perdem, ou perdem verdade ou vontade quando estamos lúcidos no dia seguinte. É cheio de: Nunca! Jamais! Agora! E não tem quizas, quizas, quizas. Por que senão de que vale ficar bêbado se a gente não pode ficar imperativo e convencido, falar merda sem superego... A vida trata de relativizar tudo depois. Tô falando demais. Já ultrapassei meus caracteres e nem comecei ainda.

Cheguei em casa sábado passado, eram umas nove e meia. Abri um conhaque, peguei meu caderninho e fiquei escrevendo enquanto os meninos, os Glorios Tarcísios ensaiavam.

De repente me pego emocionada, comovida como o diabo, seja pelo conhaque ou pelo que estava ao meu redor, (sou uma pomba e nunca neguei),  Glorios Tarcísios é e será banda com verve!(sempre quis usar verve em uma crítica, ou escrever uma crítica para usar a palavra verve) Com vontade de historinha.  Uma ironia 80, diferente da ironia adquirida das novas gerações, que às vezes nem funciona. A ironia dos Glórios desdenha o próprio amor, mas ele tá lá, pulsando, quanto maior o sarcasmo maior a fé. Ironia fake é covardia! Citando o grande escritor Eder Rodrigues que perfuma muito do que escrevo e faço em teatro, “Calvino esqueceu de explicar, que antes de beber dos Clássicos é preciso no mínimo fazer umas embaixadinhas! Então cadê a paixão?”

Rebordosa morreu, já enterraram a porra louca. “Depois do muro a gente não quis mais droga.” Diria João e Ana Lee pra mim, fazendo hora comigo nesse mesmo dia. E eu já tava falando alto demais. Mas é que eu tava adorando tudo.

Enfim não sei nada de música. Sou só amante, amadora. Minha Medéia ainda nem deu conta de matar os filhos. Enquanto o carro do sol não chega, eu redescubro e reafirmo que uma banda na nossa idade não é absurdo. É foda.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Dizem que no principio era o verbo, que se fez carne e a costela fez-se mulher

Dizem que o primeiro homem curou a ferida que a mulher tinha no meio das pernas copiando os animais. Dizem que Zeus castigou o andrógino fazendo-o viver atrás do seu pedaço.
Dizem que no tempo de Medéia, o amor não existia.
Dizem que quando Rei Arthur uniu o mundo pagão ao cristão o amor ficou cortês.
Dir-se-ia que pende da escuridão da noite como brinco da orelha de um etíope, diria um Romeu.
Dizem que quando Pero Vaz Caminha descobriu que as terras brasileiras eram férteis e verdejantes, o amor ficou mestiço.
Dizem que no tempo de Goethe, as mulheres desmaiavam quando o amor ofegava seu peito apertado em corpetes da moda.
Dizem que o contratador levou o mar pra Xica, que Abelardo e Heloisa estão enterrados juntos. Que Marie Farrar, nascida em abril, matou o filho e deixou no lavatório.
Dizem que quando o homem foi à lua e a mulher queimou o que apertava seu peito. O amor virou livre. Dizem que idade média a mulher foi queimada pelo que apertava o seu peito. E a lua, essa inconstante, era mágica.
Dizem que sou feminista demais.
Dizem que o amor é tudo que precisamos.
Diz que traz a pessoa amada em três dias.
Dizem que Ro rô empurrou Zizi da escada.
Dizem Jung amou uma histérica.
Dizem que já estou sã da loucura que havia em sermos nós.
Dizem que as bruxas de Salem estavam fazendo a brincadeira do copo.
Dizem que o antropólogo Claude Levi Strauss detestou a Bahia de Guanabara.
Dizem que o útero caminha no corpo da mulher
Dizem que em Passárgada sou amiga do rei.
Dizem que sou estrangeira.
Mas quando eu vim parar esse mundo eu não atinava em nada.


terça-feira, 7 de maio de 2013

sandia teima (escrito em abril)


Eu não me poupo. Eu não me pouco. Eu sou fominha. Topo qualquer parada. Eu sujo meu nome.  Eu excedo. Eu repito. Eu poluo a vida com coisa que a idade devia ter me ensinado a não repetir. É burrice?
Eu não me poupo. Eu não me pouco. Eu não fujo. Eu não preservo. Eu não engulo.
Eu choro. Bato o pé. Pago de tirana. Dou piti. Faço cena. Eu grito. Eu machuco. Mas não precisa ter medo de mim.
Eu escolhi. Eu topei. Eu trombei com essa parada e não largo mais o pé. O nome eu limpo. A vida eu respiro, eu dô, aconteço a qualquer custo.
Eu não me poupo. Eu não me pouco. Eu me doo. Eu te doo. Love me do.

Dor de cabeça! Dor de cabeça! Tá gritando dor de cabeça!
Eu quero tomar uma cerveja, escrever chover alguma coisa. Cadê o asfalto Silvia?
TPM que depois dos trinta me deixa assim, desperdicei uma insônia olhando para o teto.
Desperdicei uma insônia olhando para o céu, deitada na rede, pensando, meu deus eu estou sem criatividade...
Desperdicei uma insônia olhando a insônia passar
Minha Medéia fracassa, mas não morre.
Meu deus! Meu útero! Meu tendão de Aquiles de carnaval. Meu carro do sol.
Estou fora da contracena.
Estou fora da contracena.
Sou só eu e meu nariz refletindo com a luz do pinbim.
Meu interlocutor
Meu interlocutor
Meus filhos. Meus... Meus f-i-l-hos.
Sou só eu e meus gritos de guerra.
Meu lamentos velhos.
Atrás da porta com o megafone no buraco da fechadura.
Dois anos de balzaca
Dois anos de balzaca.
Desempregada
Desempregada
Bicho adoentado.
Bicho de coxia.
Bicho.
Hoje eu estou assim
Amanhã, eu escorro.
Amanheço sem dor.
Mole de piroxicam.