comunista desejosa de glamour hollywoodiano. anarquista com apego material a coisas emocionais. plagiadora que exige direitos autorais



segunda-feira, 24 de junho de 2013

Lester Bangs de Garagem. Aqui de Casa.


NA GELÉIA GERAL BRASILEIRA QUE O MIMEÓGRAFO brinca de ANUNCIAR, O QUE ESTÁ NA PRAÇA O QUE ESTÁ NA PRENSA, O QUE ESTÁ NA SALA DE CASA, NA GARAGEM, PRONTO PRA SAIR E DEIXAR DE SER PROMESSA.

Eu sempre gostei da “historinha”. Por que a gente monta uma banda com os colegas na garagem de casa? Historinha. Grupo de teatro? Historinha. Namoro? Historinha. República, ménage à trois, foto no muro, casamento na Igreja de uma filha de ex-hippies, poema compartilhado, cover de Ro Ro...  (aliás, que verve falta na voz daqueles rapazes? Como eu queria um Marcelo todo Veronez ali.) Historinha.

 Você topa? E se der errado? A gente mantém o contato visual?  Quem vai primeiro? A gente vai junto. Um de cada vez. Todo mundo junto. É pra durar? E se sambássemos na cara de todo mundo? E a nossa cara? Quer namorar conosco? Nossa cara aguenta? Tá brincando? Isso não existe. A cara sambada? Nosso primeiro single? Da pra curar depois? Me cura? Te curo? Me cuida. Te cuido. Como é que faz?

Sempre gostei de historinha. Uma vez sentada com Marina- Byron-Lipe- Marcelo no Bolão, Marina teve uma discussão com Byron sobre João Gilberto e MC Catra. E eu achei lindo e divertido. Passou um carro tocando funk, e Byron soltou um “queria ter um carro com som pra colocar João Gilberto bem alto” e Marina disse: Byron! Vai tomar no cu! Eu sou mc catra e ponto! A discussão rendeu mais que isso, mas por trás disso tudo tá a historinha, tá o discurso. Marina não escuta MC Catra, mas por que todo mundo tem que escutar João Gilberto? E é só isso que tá por trás dessa discussão? A gente, tão debochado, a gente ainda preso e apaixonado pelo passado e pelos antepassados, a gente que de tão mal passado ainda sangra, até que ponto isso é só sobre musica?  Ainda desconfio. Ainda quero mais.

Nesse mesmo dia, após a discussão eu soltei um “eu gosto mesmo é da historinha”, me referindo a cantores, cantoras, bandas, seus passados, suas mortes, seus amores, suas tentativas, body drama, Elis chorando enquanto canta, ou Elvis errando a letra, muito suado e muito gordo, Caetano improvisando um discurso sobre a juventude que diz que quer tomar o poder. (Alex, Beto e Zé ensaiando musicas na sala de casa sábado passado. Eis que nasce pra mim Glorios Tarcísios.)

Mas quando eu disse isso, Marcelo me arregalou os olhos e disse: “que isso, o que eu gosto mesmo é da musica!”, deve ter ficado muito decepcionado comigo naquele momento. Mas acho que eu não consegui me explicar, hoje eu acho que ele entende o que eu queria dizer. Mas discussões etílicas não são articuladas, são exclamações, manifestos que se perdem, ou perdem verdade ou vontade quando estamos lúcidos no dia seguinte. É cheio de: Nunca! Jamais! Agora! E não tem quizas, quizas, quizas. Por que senão de que vale ficar bêbado se a gente não pode ficar imperativo e convencido, falar merda sem superego... A vida trata de relativizar tudo depois. Tô falando demais. Já ultrapassei meus caracteres e nem comecei ainda.

Cheguei em casa sábado passado, eram umas nove e meia. Abri um conhaque, peguei meu caderninho e fiquei escrevendo enquanto os meninos, os Glorios Tarcísios ensaiavam.

De repente me pego emocionada, comovida como o diabo, seja pelo conhaque ou pelo que estava ao meu redor, (sou uma pomba e nunca neguei),  Glorios Tarcísios é e será banda com verve!(sempre quis usar verve em uma crítica, ou escrever uma crítica para usar a palavra verve) Com vontade de historinha.  Uma ironia 80, diferente da ironia adquirida das novas gerações, que às vezes nem funciona. A ironia dos Glórios desdenha o próprio amor, mas ele tá lá, pulsando, quanto maior o sarcasmo maior a fé. Ironia fake é covardia! Citando o grande escritor Eder Rodrigues que perfuma muito do que escrevo e faço em teatro, “Calvino esqueceu de explicar, que antes de beber dos Clássicos é preciso no mínimo fazer umas embaixadinhas! Então cadê a paixão?”

Rebordosa morreu, já enterraram a porra louca. “Depois do muro a gente não quis mais droga.” Diria João e Ana Lee pra mim, fazendo hora comigo nesse mesmo dia. E eu já tava falando alto demais. Mas é que eu tava adorando tudo.

Enfim não sei nada de música. Sou só amante, amadora. Minha Medéia ainda nem deu conta de matar os filhos. Enquanto o carro do sol não chega, eu redescubro e reafirmo que uma banda na nossa idade não é absurdo. É foda.

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