comunista desejosa de glamour hollywoodiano. anarquista com apego material a coisas emocionais. plagiadora que exige direitos autorais



terça-feira, 14 de outubro de 2008

Pseudo-escritora vai ao psiquiatra

Na sala de espera ela fuma na janelinha enquanto a secretária não chama. Mentira que não existia secretária. Só um sofá e uma música ambiente Guarani FM.
Ensaiava o monólogo... Bom. Eu sei que sou muito adulta pra sofrer de hiperatividade. Mas eu não me concentro. Não paro num livro só. E o problema é que eu sou escritora. Mentira eu não sou escritora. Mas algumas pessoas tem acreditado nisso. Na verdade eu não passo e um subproduto da comunicação de massa. Da superficialidade. Sou só uma consequência sem trema. Da telenovela ao Google. Minhas referências vão de Odete Roithman a Wikipédia. Patético e sei. Não sou uma grande leitora entende? Meu corpo não deixa. Se não gosto desisto, se gosto muito, minha leitura é interrompida por uma grande ansiedade, que me faz caminhar pelos cómodos da casa e fumar um cigarro pra dar conta de retomar a leitura. Sabe como é isso? Já se sentiu assim lendo uma coisa muito boa? Quantos anos você tem? Eu devia te chamar de senhor? Pois é, não aprendi isso direito. Minha geração tem esse problema.
Enfim, preciso me concentrar, entende? Como posso ser escritora se não leio ininterruptamente? Foi assim que e aprendi. Quem escreve tem que ler muito. Se não, não dá certo. Sofro esse deficit de atenção desde pequena. A televisão sempre me atraiu. E agora tem Google e YouTube. Sabe como é? Uma coisa puxa outra... veja também (dois pontos), vídeos relacionados (dois pontos)...
Não consigo ler muitas coisas até o fim. Eu sou uma fraude? Foi uma pergunta retórica. Sim eu fumo... Sim eu bebo... Tomo muito café. Penso comigo que não devia ter dito isso ao doutor... Será que posso ter TDA com Hiperatividade na minha idade? Não é assim que se diz? Transtorno de Deficit de Atenção? O que indicaria você nesses casos? Por favor me receite ritalina porfavormereceiteritalina, penso comigo... Sabe, não quero ser curada de nada, só quero focar. Focar como um escritor romântico. Não. Romântico não. Focar como um modernista da segunda fase. Drummond. Um homem inteligente e ensimesmado. Intelectual e triste. Focado. Estou enganada?
Droga. Ele não vai me receitar ritalina. Tenho tendência ao vício. Virei uma caveira ano passado por causa das anfetaminas que tomei. Mas escrevi. Ô como escrevi. Claro que tudo que escrevo é uma colagem de informações, fragmentado e tudo. Sou só mais uma médium pós-moderna e laica psicografando Internet, televisão e resquícios de rock da adolescência... sei lá...
Marina?...
O médico me chamou. Entrei. Ele tinha um quadro da Família Adams na parede. Achei graça. Fiquei olhando pro quadro. Ele estranhou. "Tá torto?" Ele me perguntou... Tá me testando ou você é louco?... Gostei do cara. Mas ele não me receitou ritalina. Claro que não...
Enfim, Ritalina conseguida de maneira lícita não vai dar certo mesmo. Quem sabe eu não peço fluoxetina, já que estou aqui. Citalopram, foi o que ele me receitou. Me deu várias caixas de amostra grátis. Nunca tomei. Merda. Que quero eu com as drogas? Quero focar. Quero focar.