comunista desejosa de glamour hollywoodiano. anarquista com apego material a coisas emocionais. plagiadora que exige direitos autorais



quarta-feira, 10 de julho de 2013

meu cigarro

Meu cigarro nasceu da solidão. Meu cigarro nasceu como companhia. Meu cigarro nasceu da avó do mundo de cócoras a fumar durante a criação da Terra. Meu cigarro é herança de índio, que passeou por Hollywood, Hunphrey Bogart Guarany esfumaçou o glamour de meus avós. Meu cigarro nasceu do maço de cigarros do meu vô em cima da TV. Cinco cruzeiros e o troco de bala. Meu cigarro nasceu deitada na rede desperdiçando insônia e sangue olhando pro céu de fumaça. Meu cigarro nasceu da fumaça que encobre meu pensamento de companhia cheia de herança. Meu cigarro é herança de índio que chora na rede dentro da noite ocidental. 
Minha noite ocidental é cheia de cigarro. Meu cigarro é fruto de pecado de pulmão. Meu cigarro é oficina em plena atividade de ociosidade no ocidente de não sei quando ou onde, meus amores... Meu cigarro é fruto de se eu continuar assim minha ansiedade me mata aos quarenta. Meu cigarro tem cara de comercial dos oitenta. Meus noventa começam com cigarro. E meu segundo cigarro tem gosto de menta.

Meu cigarro agora e só agora tem cheiro de Morrissey, mesmo sempre sido a cara do Nelson, e com a garganta de Rorô sempre sendo Nair Belo. Meu cigarro dói de fôlego, por 17 anos, alguns namoros, um casamento e uma dúzia de peças de teatro. Meu cigarro grita nas minhas roupas, no meu cabelo e no nosso beijo. Nosso casamento tem cigarro e se um dia não tiver, por favor, continue me amando. Por favor, continue me beijando. Meu cigarro também tem algumas janelas e meio fio como herança de melancolia sem libido de uma estrada de minas pedregosa do caralho. Meu cigarro também é volver a los diecisiete violeta violenta com la frente marchita de memória. Meu cigarro também não dói de metafísica. Meu cigarro é o que de mais concreto da minha dor se acomodou como catarro no meu peito.


Marina Viana
Fumante há 17 anos.
Fuma dois maços por dia.

Traga até charuto.

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