comunista desejosa de glamour hollywoodiano. anarquista com apego material a coisas emocionais. plagiadora que exige direitos autorais



sábado, 14 de setembro de 2013

Belo Horizonte
Tem horas agora que eu quero te largar, te deixar pra trás, te esquecer como nunca quis antes. Tem hora que eu quero cuspir nesse asfalto e rasgar uma a uma minhas cartas de amor que te fiz e queimar num coreto qualquer. Numa pracinha qualquer, numa esquininha qualquer, num butiquim qualquer.
Tem horas que eu olho pra você e você me joga na cara todo o meu sonho de coletivo, de grupo, de história, de teatro, de amor, de amizade, de historinha nova, e me joga fora dentro de um bueiro sujo entupindo uma Cristiano Machado inundada de carros, descaso, propagandas do Aécio, água e BRT.
Tem horas que eu não sei o que fazer com esse trem. Esse trem que de repente esvaziou. Meu coração precisa te esquecer pra voltar a te amar.
Não sei se a bupropiona vai me fazer esquecer, vai me fazer fumar menos, vai me fazer doer menos a vontade de depois que dói o externo e deixa tudo nublado.
Cada dia guardo um olhar diferente pra você. E nesse momento você só me dói. Só me dói.
Não ouso dizer que te odeio, mas eu te odeio.
Te odeio por toda madrugada que te caminhei, por toda boca de lobo, por toda vontade que no fim dá sempre errado, todo mundo! Inclusive eu mirando o próprio cu. Te odeio por todos os teatros fechados, por toda rua com nome de índio, por toda esquina saudosista. Todas as igrejas clubes, savassis, serras, JKs e Niemeyers, te odeio por toda mágoa que eu herdei, por toda essa desconfiança de que alguém vai descobrir onde escondi a porra do queijo, e que o santo é de pau oco, que o progresso tá dentro desse contorno e que a liberdade tá no ponto mais alto. Desse triste viaduto da Abraão Caram. Desse mundinho. Mundinho, que me aprisionei. Te odeio cidade. Te odeio por fazer isso comigo. Te odeio por me trancafiar aqui dentro, sem horizonte horizonte horizonte horizonte.
Cidade eu não rolei no seu asfalto o suficiente, mas de que adiantaria? Adiantaria? Você me amaria? Você não me ama. Você não me ama! Você não me ama. Eu insulto o burguês. Ódio ao burguês! Ódio cidade.
Ninguém vai entender meu escarnio momentâneo pelo curral.  Foda-se. Eu grito do alto dos piolhos entupida de cachaça e os militares não passarão. Eles não sabem o que fazem mas também não sou cristo então eles que se fodam junto com o viaduto, Fernando Sabino e Drummond. O meu nome não é Raimundo, tampouco me importa o mundo nesse sábado de manhã. Hoje não tem carnaval, nem procissão. Mas todas as janelas estão fechadas de luto.
Eu quero muito que isso passe, por que eu preciso te amar. Mas hoje eu te odeio.
Do fundo do meu coração.

Eu tô chorando e já quero te pedir perdão. Mas hoje não. Hoje nada de perdão. Nada. Não.

2 comentários:

Raul Saborytta disse...


Escrita densa. Poética cuspida com sutileza na observação. Gosto muito desse seu modo literário de escrever. Fala do difícil, tão facilmente e feroz.

Raul Saborytta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.