Dizem que o primeiro homem curou a ferida que a mulher
tinha no meio das pernas copiando os animais. Dizem que Zeus castigou o
andrógino fazendo-o viver atrás do seu pedaço.
Dizem que no tempo de Medéia, o amor não existia.
Dizem que quando Rei Arthur uniu o mundo pagão ao cristão o
amor ficou cortês.
Dir-se-ia que pende da escuridão da noite como brinco da
orelha de um etíope, diria um Romeu.
Dizem que quando Pero Vaz Caminha descobriu que as terras
brasileiras eram férteis e verdejantes, o amor ficou mestiço.
Dizem que no tempo de Goethe, as mulheres desmaiavam quando
o amor ofegava seu peito apertado em corpetes da moda.
Dizem que o contratador levou o mar pra Xica, que Abelardo e
Heloisa estão enterrados juntos. Que Marie Farrar, nascida em abril, matou o
filho e deixou no lavatório.
Dizem que quando o homem foi à lua e a mulher queimou o que
apertava seu peito. O amor virou livre. Dizem que idade média a mulher foi
queimada pelo que apertava o seu peito. E a lua, essa inconstante, era mágica.
Dizem que sou feminista demais.
Dizem que o amor é tudo que precisamos.
Diz que traz a pessoa amada em três dias.
Dizem que Ro rô empurrou Zizi da escada.
Dizem Jung amou uma histérica.
Dizem que já estou sã da loucura que havia em sermos nós.
Dizem que as bruxas de Salem estavam fazendo a brincadeira
do copo.
Dizem que o antropólogo Claude Levi Strauss detestou a Bahia
de Guanabara.
Dizem que o útero caminha no corpo da mulher
Dizem que em Passárgada sou amiga do rei.
Dizem que sou estrangeira.
Mas quando eu vim parar esse mundo eu não atinava em nada.