Revolution (a continuação da saga da moça da melancia)
AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!
Ela grita na porta do prédio. Uma senhora se assusta.
Olhando o que? Atravessa a rua e vai até o bar. Compra os cigarros. O tampo da melancia bateu na parede, suco de sandia escorrendo no assoalho.
Ela acende os cigarros. Um homem olha pra ela. Ela dá um trago. Pensa em dizer alguma coisa desiste, volta pro outro lado da rua e começa a caminhar.
Você me aparece com essa cara pra falar da sua rebeldia. Da sua rebeldia?
Autoritária, fraca, dissimulada e melindrosa isso sim. Que merda.
Realmente sou uma grande merda. Não sei de nada a não ser do que me pegou de tal forma que me fez prestar muita atenção. Eu não presto muita atenção.
Preguiçosa, vagabunda, avoada, dispersa, indisciplinada. Sou boa no que faço. Há! E espero que isso me leve a algum lugar. Posso esperar até o dia chegar?
Eu tenho dor. Escrevo e a culpa é de toda dor malacabada que deixou uma porra de marca em mim. Não cura. Mas também não diagnostiquei. Avoada que sou, desde nova venho dizendo. Metade de minhas palavras se dissipam com o cigarro. Um maço de palavras por dia cheias de alcatrão e nicotina e veneno de rato vão pro espaço. Outras trancafiadas no pulmão, me tiram o fôlego e engrossam a minha voz. Se eu não fumasse, eu falaria. Falaria tanto!! Aos sete ventos minha voz, cheia de lirismo juvenil e imbecil, retórica que nunca tive, coerência que nunca dei conta. Tudo ao invés da fumaça espessa. Ou rala.
Continua caminhando, joga o cigarro na boca de lobo.
É! 2012 ta aí e eu jogo a porra da guimba na boca de lobo!
Ri da afirmação raivosa imbecil e continua.
Watermelon escorrendo, passando por debaixo da porta. Ganhando o hall e as escadas.
Passa pela frente do prédio, mas não entra. Resolve caminhar mais.
Gostava de conseguir escrever andando... É impressionante como que o corpo em movimento faz a cabeça funcionar. Como penso enquanto ando. Sou boa de escrever quando tem uma dor muito grande que precisa de lugar, por que já não cabe só em mim. Faz tempo meu coração tem tido espaço de sobra. A dor existe tímida. Distraída. Cansada. Ando pequena e cansada. Desejosa de.
Melancia ganhou o elevador, escorre pelas gretas da porta, pelos botões.
Não sei de onde vem tanto desejo de. Moro num castelo. E o mundo não parou lá fora. Apesar de previsível o mundo não parou lá fora. Li meia dúzia de livros que me fez chorar. Meia dúzia de livros que me fez andar, meia dúzia de livros que fez frio na barriga. Dezenas de livros que fizeram pular uma porção de páginas.
E ela começa a andar e a gesticular sozinha. Ela já tinha aprendido a conversar consigo mesma sem chamar a atenção. Tinha vergonha na infância quando percebiam que conversava sozinha. Então conversava com ela mesma como um segredo, ninguém sabia. Mas ali ela tinha se esquecido e gesticulava e ria, e resmungava de raiva. Anos de educação autista jogada pelo ralo.
Minha escrita adolescente. Pouco símbolo ou metáfora aparente. Tudo nu e cru, com referencias nenhum pouco clássicas. O elevador abre e jorra uma água vermelha inundando a portaria do prédio. Referência clássica, essa sim.
Quero gritar e rolar no asfalto. Quais são as opções? Pra que lado eu vou? Que camisa eu visto, que bandeira eu dou.
Cansei não tenho mais nada pra falar. E se o mundo acabar amanhã, que ficção científica vai dar conta da dor que não se resolveu na TERRA?
Estou AGUDA!
VOU PARAR...
O suco vermelho que já tinha inundado a portaria do prédio, ganha as ruas, entope as bocas de lobo, começa a levar os carros, os carrinhos de bebê, os vira-latas, o lixo, os mendigos, os guardas de trânsito. Eu, com a melancia no pescoço, até o pescoço, me esforçando pra respirar, grito:
TEM GENTE QUE AINDA CANTA QUE TUDO VAI DAR PÉ?
Vai dar pé, vai dar pé.
Um comentário:
irmãos agudos!!!!!
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