comunista desejosa de glamour hollywoodiano. anarquista com apego material a coisas emocionais. plagiadora que exige direitos autorais



quinta-feira, 11 de março de 2010

HEY JUDE (THE BEATLES)

Na, na, na, na, na, na, na, na, na, na, na...

“Viva la vida!” Um pedaço de melancia com as inscrições de Frida Kahlo. “Naturaleza viva!” ou “ La novia que se espanta de ver la vida abierta!”
Gostava das pinturas de natureza morta de Kahlo. Tudo tão vermelho e sangrento e festivo. Vida abierta.
Melancia é uma fruta vermelha por dentro verde por fora e ainda por cima tem sementes. Símbolo de Fertilidade.
A melancia estava lá naquele apartamento há dias. Apartamento vazio. Sem móvel algum. Estava de mudança, mas não tinha trazido os móveis ainda. Que eram poucos. Só a melancia. Que havia comprado num impulso de vida. Alegria de quem vai à feira e leva uma melancia inteira pra casa.
Fumava um cigarro enquanto rolava a melancia contra a parede.
Dizem que melancia explode com o passar do tempo. Devido ao calor... ela fermenta. Ou então devido ao manuseio compulsivo de alguém que não mata mais a ansiedade com um fino tubo recheado de nicotina.
Ela ainda não tinha trazido a vitrola. Nem o tocador de CD...
Ela sempre achou muito importante saber muitas canções de cor. Saber muitas canções de cor é um grande conforto. É como saber o passo seguinte. É ser salvo pela memória em situações diversas. Ela era assim. Sabia muitas canções. De um ecletismo irritante. Bastava uma palavra, e dessa palavra, 30 canções com ela.
Em momentos como aquele, sozinha no apartamento vazio, com a melancia, uma música caía bem. Cantarolava.
O amor é uma coisa muita estranha. Pensava. Vê-se por Frida e Diego. Ou meu pai e minha mãe. Por tanta gente. Ela nunca entendeu. Tem uma melancia aberta tatuada nas costas. Sabe-se lá porque. Está aberta. Por mais que se espante.
Anoiteceu. Saudade de tanta coisa. Beber vinho com seu pai. Do fusca da mãe. O humanismo da mãe. O eruditismo do pai. Do mar. Era do interior, mas tinha saudades do mar.
A poetisa Alfonsina Stormi, se matou entrando no mar. Bonito isso. Triste. Mais saudades dos pais e dos vinis de Mercedez Sosa.
Amanhã ligar para os dois. Cada um em seu lugar, separados pelo Atlântico.
Carregada de sentimentalismo! Pollyana moça, pomba de Woodstock! Parou de cantar. A garganta doía de vontade apertada de chorar. Chorou. Como de costume. Sentimento latino de drama com música lá de cima, rock condecorado pela rainha em Buckinghan.... Melhor descer. Dar uma volta. Comprar um cigarro.
Desceu. A música não saía da cabeça.
No escuro... Sozinha... A melancia explodiu.

Um comentário:

fmaatz disse...

acabei de te descobrir.
tem coisa que o outro fala e a gente entende.
foi o caso.
eu volto.
bjs.